Curvas e
tapetes
E essa Vida
que adora me pregar peças. Travessa, essa moça. Pois sabe que não tenho
alternativa se não vivê-la em cada um de seus momentos. Mesmo sabendo que essa
travessa está lá, a espreita. Outro dia, me deu um amor. Não mais que de
repente. Acredita? Disse: está desconfiando de quê? Não se preocupe, dou- te
este presente por que eu gosto de você sim. Pode levar! É sério!
Como quase
ficou ofendida com a minha primeira recusa, aceitei, de bom grado. E para
mostrar como estava agradecida pelo presente, vivi.
Vivi cada
novo sabor que o amor me trouxe : cada inveja, cada orgulho, cada ciúme, cada confiança. Cada prazer, cada felicidade,
cada carinho, cada cuidado, cada opinião, cada diferença. Cada olhar de
devoção, cada olhar de paixão, cada olhar de amor correspondido, cada toque.
Vivi- o todo, em cada canto, em todos os seus lados. Mas, não mais que de repente,
essa travessa moça me chamou para uma conversa séria. Confesso, fiquei um pouco
ansiosa. A vida é severa quando percebe que não se está indo por onde se deve,
ou como Lhe convém. Mostrou-se preocupada com o meu bem estar. Porque gostava
de mim sim. E, para meu próprio bem, levou o amor com Ela. Você precisa
descobrir o que é a fé, disse. E apesar dos meus apelos, apesar de perguntar –
Lhe incessantemente o que eu faria da minha vida sem o amor, Ela não se abalou.
Levou-o. Repetiu que seria para o meu bem, que eu precisava aprender o que é o
amor - próprio. Quando reergui-me, Ela me abraçou, orgulhosa. E achou que eu
precisava de um pouco de descanso. Para lhe agradecer novamente, infinitamente
vivi. Respirei sem sentir dor, fui ter com os meus. Confiei na fé que Ela me
dera ao final de uma de suas lições.
Quis me
deixar levar, mas Ela ressentiu-se. Você ainda não viu tudo, disse. Colocou-me
no meio de incalculabilidades, apenas para que me surpreendesse com meus
próprios sentimentos. Regojizou-se ao me ver a beira do desespero, com raiva
por Ela me trazer aos olhos o que eu guardava à sete chaves. Veio com conversas
para me dizer o quanto eu ainda estava me protegendo Dela. Veio com conversas
para me convencer a guardar o meu orgulho. De que você tem medo, não cansava de
me perguntar, de quê você tem medo? Gritei: não é da sua
conta, Vida, não é!!
Quando isso
irá terminar? Perguntei sem sentir. Ofendida, ela ainda não me respondeu. Anda
desaparecida, essa moça. E eu um pouco decepcionada com Ela. Acredito que anda
dando umas voltas por aí, para eu olhar para o lado, para o outro, para ver que
existem problemas maiores que os meus, só para me provocar. Deve ter-se aborrecido
quando percebi que em cada circunstância há um pensamento diferente do que se
espera. Uma impressão, uma previsão errada. Uma aventura errante. Mas como a
vida mesmo me sussurra sempre aos ouvidos, não há nada que não se resolva com
calma, fé e pés gelados.
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