Apelo
Tempo, mano velho! Por onde andas?
Eu sei que ando assim sumida, desatenta aos seus chamados...antigos
chamados...mas você me conhece bem; eu sou assim um tanto distraída. Agora venha me dar o braço, me leve para mais
um passeio em seu jardim, esqueça. Eu sinto que já me desculpou. Sente comigo
naquele banco enferrujado...aquele, onde já refletimos sobre tantas...onde já
tomamos tantas decisões e já pedimos, juntos, pro nosso velho amigo, o vento, que
levasse com ele o que não fazia mais sentido e guardasse carinhosamente em seu
baú de memórias. Assim, quando de vento virasse brisa leve (afinal, todo mundo
varia o humor), sussurraria em meu ouvido uma breve história, para que eu nunca
me esquecesse de onde vim. Espero. Tempo, mano velho, venha em meu socorro mais
uma vez. Esqueça de nossa última briga, quando você me acelerou a vida e eu
recusei, fui em valsa. Esqueça esse orgulho, eu já engoli o meu, não minta mais
pra mim. Preciso de novo que chames o vento, tempo, grite por ele, grite!
Esqueça esse orgulho, venha falar comigo, me diga como você está. Pois é o que
te peço agora, acelere. Acelere o quanto quiser. Cedo de bom grado ao seu
desejo. Só não se esqueça de levar consigo, quando passares correndo, essa
pedra em que se transformou meu coração. Não sou mais uma sonhadora. E quando
voltares, amado tempo, em valsas, o traga de volta - bento, pulsando, como
coração de criança.
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